2 de setembro de 2011

Normal nem sempre é natural


Todas as coisas me são lícitas,
mas nem todas as coisas convêm.
Todas as coisas me são lícitas;
mas eu não me deixarei dominar
por nenhuma delas.
 
(I Coríntios 6:12)

Temos vivenciado profunda inversão de valores, resultante de interesses imediatistas e materiais, e de generalizada incompreensão sobre o que é natural, e o que se tornou apenas normal para o indivíduo e sociedade. Ignorar a diferença entre um e outro facilita enganos de toda espécie, pois o normal de hoje possivelmente não o será amanhã, porque imutável só a lei natural (divina). Podemos, portanto, dizer que natural é aquilo que está de acordo com as Leis da Natureza, enquanto normal é o que se tornou habitual, não causando mais estranheza.

Deus não varia de humor, nem de opinião. Suas leis são perfeitas e regem a harmonia universal, tanto no reino material quanto no espiritual, por toda a eternidade, dando estabilidade ao Universo. Mas os homens estão em processo de evolução, e necessitam, de tempos em tempos, modificar leis e regras morais que se mos-tram inadequadas ao progresso alcançado. O desenvolvimento intelectual e moral se faz através de experimentação, já que experimentando o homem adquire conhecimento e valores.

Falando doutrinariamente, para não incorrermos no erro dos "achismos‟ pessoais, encontramos equívocos humanos quanto à prática das leis naturais esclarecidas em O Livro dos Espíritos. 

Natural é a adoração que consiste “na elevação do pensamento a Deus”, pois através dela o homem aproxima sua alma do Criador. Normal tornou-se a ritualização da fé, sem envolver o coração.

Natural é trabalhar para viver com dignidade. Normal se tornou tentar “levar vantagem em tudo”, como se os fins justificassem os meios. 

Natural é utilizar a energia sexual como fonte procriativa e laço material entre pessoas que se amam, criando intimidade e respei-to. Normal tem sido o desequilíbrio da área genésica com abusos de toda espécie, que geram abortos, doenças, filhos sem pais, descontroles emocionais. 

Natural é o respeito pelo organismo que nos serve de instrumento na encarnação, cuidando para que permaneça saudável. Normal tem sido o desgaste da energia vital através dos vícios, excesso de vaidade, adulterando o vaso carnal. 

Natural é a destruição proceder da natureza, renovando as forças que movimentam o planeta. Normal virou matar, invadir, torturar, destruindo os que pensam diferente, tomando o que não nos pertence.

Natural é compreender que somos parte de uma sociedade mais ampla do que as divisões de estado e fé imprimem, e nos solida-rizarmos uns com os outros. Normal é o egoísmo que impede o compartilhar, gerando dissensões, divisões, descaso pelo que pertence aos outros, como se isso não nos afetasse. 

Natural é desejar progredir, buscando o desenvolvimento coletivo que privilegia a todos. Normal se tornou facilitar para que haja menos esforços construtivos, e mais absorção do esforço alheio. 

Natural é seguir a consciência e respeitar o direito de igualdade, agindo com outros como gostaria que agissem consigo. Normal é ignorar a consciência, a qual tem gravada em si as leis morais, nos equivocando com o que parece certo, mas nem sempre é. 

Natural é usar da liberdade com parcimônia, respeitando direitos e deveres. Normal tornou-se acreditar que liberdade é o abuso do direito enquanto se procura escapar do dever. 

Natural é que a justiça ande de mãos dadas com o amor e a caridade, para que ninguém seja privado do necessário. Normal é que o supérfluo seja ambição da maioria, ainda que para isso deixemos morrer de fome aquele que bate faminto à nossa porta.

Aliberdade que conquistamos não deve ser regida por liberalismos que se assemelham a libertinagem. Não temos que aceitar como se fosse natural, a decadência dos valores morais. É preciso, principalmente, voltar a educar moralmente as crianças, exemplificar valores aos jovens, agir com a dignidade que exige o ser cristão.

É tempo de despertar e avaliar nossas ações com a consciência isenta de interesses, a fim de decidir o melhor caminho a tomar. E nesse contexto, não há regra melhor para usar em si mesmo, do que imaginar como julgaríamos no outro, os comportamentos a que damos guarida.

 Abraços de paz e de luz!
Vania Mugnato de Vasconcelos

Artigo também disponível no 
Jornal À Luz do Espiritismo, nº 01





2 comentários:

  1. Vish...

    É bem isso mesmo. E quantas vezes ouvi que não pertenço a esse mundo por discordar de algumas coisas "normais".

    Estamos em processo de evolução, isso me conforta.

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  2. Hoje em dia dia há "normais" e "normais". Estamos em plena seleção do joio e do trigo, precisamos escolher que lado queremos engrossar. Eu prefiro ser anormal para muitas coisas hoje em dia, mas acredita que mesmo amigos espíritas me cobram as vezes que eu sou "muito certinha, rigorosa e exijo demais de mim"? Beijos querida Bárbara...

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