24 de outubro de 2011

A vida e o aborto na visão espírita




Viver é a “aptidão de existir”. 

Podemos dizer que há dois “tipos” de vida, a carnal e a espiritual. A vida espiritual surge antes no nascimento, obra divina que nenhum humano pode criar, repetir ou modificar. Somente Deus sabe como e quando criou cada um dos Espíritos que existem e somente Ele sabe o que é necessário para que estes espíritos evoluam até a perfeição. Já na vida material, embora o corpo físico também seja obra de Deus, existe uma contribuição direta nossa, pois o templo de carne onde residimos durante a encarnação é gerado pelas vias naturais do sexo e da concepção. 

Atenhamo-nos, à vida material, ou carnal, se preferirem falar assim. 

Todos os espíritos precisam encarnar e reencarnar até aperfeiçoarem-se, pois esse é o processo que leva à completa evolução. Podemos comparar as incontáveis encarnações com os diversos anos vividos nos bancos escolares, onde cada aluno (ou, comparativamente, a alma = espírito encarnado) aprende o que aquele ano letivo (ou encarnação) tem a ensinar. Mesmo os alunos relapsos, os repetentes, rebeldes, não saem da escola nem da vida carnal, sem absorver alguma nova experiência, capacidade, conhecimento.

É necessário nascer para evoluir, assim como é necessário estudar para vir a ser Doutor algum dia – essa é a lei. 

Esclarecido isso, como fica a questão do aborto? 

Dissemos que a encarnação é necessária, pois sem ela não progredimos, não expiamos erros do passado, não corrigimos enganos gerados por antigas imperfeições morais, não provamos que evoluímos. Ser impedido de nascer, portanto, é causa de grande dor ao espírito reencarnante, dor tanto mais cruel por ser causada através da decisão e ato de alguém que já esteve na condição de espírito e recebeu dos que o conceberam, a sua própria oportunidade de nascer.

O aborto, sob a ótica das leis naturais, divinas, é crime que viola compromissos assumidos entre o reencarnante e os futuros pais, os quais se ajustam para gerar o corpo que aquele receberá, de modo que passe por experiências diversas as quais possibilitam o estreitamento dos laços já existentes de amor, ou, ainda, que os crie, pois é por meio da convivência que desafetos do passado aprendem o perdão mútuo e o respeito, até que a confiança e o amor desabrochem em seus corações. 

Entendemos que muitos tenham justificativas aparentemente plausíveis para cometer o aborto, mas antes de tudo devem questionar-se se não é o egoísmo que fundamenta essa decisão. Quantos abortos são cometidos porque houve imprudência no ato sexual; porque a condição financeira não é suficiente (será algum dia?); porque houve desejo, mas não há amor; porque não se deseja modificar o corpo ou ter a responsabilidade de cuidar de uma criança? 

Segundo a Doutrina Espírita, apenas em situação de provável perda da vida da mãe, o aborto se justificaria perante a lei de Deus, pois então seria sacrificado o ser que ainda não concluiu o processo de encarnação invés de perder uma que está em plena atividade (vide questões 357 a 360 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec). 

Mesmo em caso de violência sexual, para a qual até alguns espíritas estranhamente apoiam o aborto, esse ato é completamente questionável. Sabemos da programação preencarnatória, conhecemos a lei de ação e reação, temos consciência de que não existe acaso ou azar. Se não houver condições morais de aceitar a maternidade, seria tão impossível suportar apenas nove meses de uma gestação para doar aquele ser que anseia apenas o colo e o calor de um amor maternal? Há mães de braços vazios, esperando seu filho surgir de algum recanto escondido. 

Não ao aborto.
Sim à vida, ao gesto de amor.

Abraços repletos de vida!
Vania Mugnato de Vasconcelos









6 comentários:

  1. A vida é mesmo surpreendente né? Eu, talvez por erros passados, fui uma destas mães de "braços vazios" e graças a misericórdia divina, hoje tenho minha vida preenchida por 3 espíritos de Deus, que aceitaram vir para meu lar e me fazer feliz, mais do que ninguém agradeço as genitoras que por razões outras, não puderam abraçar a maternidade, mas foram bondosas e não se valeram do aborto para resolverem seus problemas.

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  2. Minha querida, suas palavras são tão estimulantes. Você que abraçou filhos alheios por seus, os ama como se os tivesse gerado, é feliz com isso e abençoa as mãezinhas que não puderam cumprir seu dever maternal. Se errou no passado, no presente está cumprindo muito bem seu papel de mãe. Beijo grande! Obrigada por teu deixado estas palavras aqui!

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  3. Caríssima Vânia. Primeiramente a parabenizo pelo seu espaço virtual tão bem utilizado para a divulgação do espiritismo. Excelente.
    Quanto à questão do aborto, declaro-me incondicionalmente contrário a tal prática. Entretanto, busco compreender a atitude daquelas que, vitimadas pela violencia sexual, resolvem abrir mão da maternidade, interrompendo uma gestação que serviria de tortura emocional, uma vez que traria a constante lembrança daquele algoz e seus atos de babárie.
    Por outro lado, penso que sejam dignas de enorme louvor aquelas que conseguem deixar de lado o ato sofrido e focam somente naquela vida que surge em seus ventres.
    Evitar ou não a gestação nesses casos é, de fato, uma questão polêmica, a qual, sob a visão espírita, possui toda uma explicação lógica, mas do ponto de vista psicológico e emocional, também não deixa de ser justificável.

    Abraços, minha amiga.

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  4. Henrique, entendo e aplaudo suas palavras, pois as questões nunca são tão simples. Nosso trabalho como divulgadores espíritas, como cristãos, como irmãos do próximo, é preservar a vida, ajudando a compreender sua importância e valor. Mas sabemos que há por trás de muitas decisões, crises morais gravíssimas.

    Hoje mesmo eu tenho pelo menos uma história para contar, de um bebê cuja mãe novinha, permitiu seu nascimento para viver apenas 13 horas, sabendo que isso poderia ocorrer já que o bebê nasceu sem a proteção da caixa craniana superior. Ela recebeu recomendação médica para o aborto, poderia ter decidido por isso, mas optou por 9 meses e 13 horas de amor profundo.

    O que quero dizer é que sem dúvida não podemos apontar os dedos criticando a decisão alheia em qualquer aspecto, pois citando o caso dessa minha amiga, só ela sabe o que está sentindo hoje, tendo seu filho nascido e morrido ontem - nem todos teriam essa força.

    Por outro lado, é preciso admitir que esse amor dela certamente será parte da recuperação perispiritual do pequeno, que voltará saudável outra vez, quiçá com ela mesma, para viver o que deve viver na Terra.

    Eu não critico as decisões alheia (quem sou para isso?), mas preciso dizer o que é a teoria moral correta (aos olhos do Espiritismo) de modo a, quem sabe, dar indicativos e força a quem puder e quiser praticar tais conhecimentos.

    Grata pelas palavras e visita!
    Abraços!

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  5. Hm...

    Sou a favor da vida.

    Não abro exceções nem mesmo em se tratando de abuso sexual.

    Não condeno os espíritos encarnados sofredores de tal violência que praticaram ou praticarão, uma vez conheço a diferença de níveis de compreensão, formas de pensar, sobretudo, de acreditar (fé).

    Mesmo que para muitos pareça razoável, sob o meu entendimento, o espírito que foi programado para se conectar à matéria não pode ser privado de sua oportunidade de encarnar, eis que, se não for para ele vir, acredito que algo natural ocorrerá para interromper sua vinda.

    Não acho que a magia do nascimento seria distorcida pela origem do filho.

    Já ouvi pessoas dizerem que o filho lembrará sempre o evento trágico, mas eu juro que não vejo dessa forma, não obstante respeitar.

    Entendo como um presente de Deus para amenizar aquela dor, aquele registro que ficará cicatrizado na mente da vítima, que poderá pensar “teve o lado bom, tenho meu filho que amo incondicionalmente e que será capaz de amenizar o sofrimento da lembrança negativa”.

    De qualquer forma, é realmente um assunto polêmico, delicado, que devemos ter bastante cautela ao analisar caso a caso.

    Um assunto que não tenho opinião formada, é aquela criança, acho que 9 anos, que se viu na situação gravídica após o trauma do abuso sexual. Quer dizer, o que fazer nesse caso? O organismo não está pronto para gerar. Ter ou não ter o filho, será igualmente trágico, eis que o aborto é um processo doloroso.

    Concordo que tudo tem uma razão que, às vezes, não conseguimos compreender com nossa visão imediatista, mas qual seria o correto?

    Conversei com alguém e expus que, ainda assim, eu sou a favor de assistir a gravidez e deixar que as Leis Naturais nos responda.

    Não é tirar o filho que apagará a lembrança do ato violento. É minha posição.

    Sobre o aborto em caso de grave risco à vida da mãe é complicado também. Sou muito tranqüila quanto aos fatos naturais. Medo tenho são dos atos que praticamos, que forçamos...

    Sei que temos “atenuantes” pelos atos que cometemos para sobrevivermos, mas a minha idéia, por acreditar na Lei de Ação e Reação, é que, de alguma forma, uma vida seria cessada no momento correto, mas que seu dever de dar à luz , a oportunidade a outro, estaria devidamente cumprido.

    Uma pessoa não ficará plena jamais após o ato abortivo.

    “Se eu pudesse voltar atrás, jamais teria cometido, sonho como ele seria se estivesse aqui e vejo que egoisticamente interrompi a chance de ter hoje a alegria que me falta.” – Meu pensamento ao me colocar em qualquer dessas situações.

    Repito: Respeito e entendo os pensamentos contrários nesses dois casos críticos que expusemos. Mas desprezo a conduta abortiva nos demais.

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  6. Muito bom ler sua reflexão, Bárbara... gostei especialmente desta frase: "Não é tirar o filho que apagará a lembrança do ato violento". Beijo, grata por ter comentado.

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